Por: Laryssa Borges, de Brasília
Supremo Tribunal Federal (STF) realiza sessão extraordinária(Carlos Humberto/SCO/STF/Divulgação)
Ministros do Supremo Tribunal
Federal (STF) confirmaram nesta quinta-feira decisão individual do relator da
Operação Lava Jato na corte, Teori Zavascki, e mantiveram momentaneamente em
Brasília os processos em que o ex-presidente Lula é investigado no escândalo do
petrolão. O veredicto também deixou por ora o juiz federal Sergio Moro longe de
qualquer decisão envolvendo o petista. O julgamento ainda não foi concluído,
mas já há maioria de votos para referendar a liminar.
No dia 22 de março, o ministro
Teori Zavascki determinou que fossem enviados à corte todos os processos
relacionados ao ex-presidente Lula na Lava Jato e criticou duramente a atuação
do juiz Sergio Moro no episódio. Teori valeu-se do argumento de usurpação de
competência, tese segundo a qual Moro não poderia ter decidido nada sobre o
caso porque nos grampos contra o petista aparecem autoridades com foro
privilegiado, como a presidente Dilma Rousseff. Na avaliação de Zavascki,
caberia unicamente ao Supremo decidir se o processo sobre Lula deve ou não
tramitar em Curitiba.
Quando julgar o mérito do caso, o
que não foi feito hoje, o Supremo terá de decidir se desmembra o processo
envolvendo o ex-presidente Lula e se remete as suspeitas contra o petista, que
atualmente não tem foro privilegiado, à primeira instância. Nesta quinta,
embora não tenha discutido especificamente este ponto, Zavascki sinalizou que
pode votar pelo fatiamento do processo em que Lula é investigado por suspeitas
de ter recebido favores de empreiteiras enroladas com o escândalo do petrolão e
ocultado o patrimônio resultado dessas benesses. "Provavelmente se fará a
cisão, como se tem feito na maioria das vezes. Não podemos abrir mão da
competência de dizer que um ministro de Estado interferiu ou não, pressionou ou
não, ou que a presidente da República promoveu ou não atos que importassem o
comprometimento das investigações. Esse é um juízo que foi feito em primeiro
grau, mas é um juízo inalienável do STF", disse o relator.
Grampos - Durante o
julgamento desta quinta-feira, uma manifestação de Teori Zavascki deve provocar
alerta entre os investigadores do petrolão. Isso porque ele afirmou que "será muito
difícil convalidar a validade" como prova da conversa em que o
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a presidente Dilma Rousseff debatem
que o petista deveria assinar o termo de posse como ministro da Casa Civil
"em caso de necessidade".
A afirmação
de Zavascki ocorreu porque o juiz Sergio Moro havia determinado a interrupção
dos grampos envolvendo Lula às 12h18 do dia 16 de março e a conversa entre Lula
e Dilma ocorreu às 13h32, horário em que a interceptação já deveria ter sido
suspensa. O relator do petrolão no STF ainda fez um alerta de que "já
conhecemos a história" de grandes operações policiais anuladas por erros
de juízes. Exemplo emblemático é a operação Castelo de Areia, que investigou um
esquema de evasão de divisas, lavagem de dinheiro, crimes financeiros e
repasses ilícitos para políticos envolvendo empreiteiros da Camargo Correa
entre 2009 e 2011. A investigação foi anulada pelo Superior Tribunal de Justiça
(STJ), que considerou as escutas ilegais porque elas foram autorizadas a partir
de uma denúncia anônima.
A conversa entre Lula e Dilma,
aliás, é um dos mais claros exemplos, na avaliação do Ministério Público
Federal, de que a nomeação do petista como ministro da Casa Civil tinha o
propósito claro de blindá-lo nas investigações, transferindo a jurisdição de
Curitiba, onde Sergio Moro julga os processos da Lava Jato, para o STF,
tribunal que o próprio petista chamou nos grampos de "acovardado".
Na
Operação Lava Jato, o tribunal já havia determinado o fatiamento de processos
relacionados ao petrolão e decidido manter sob a alçada de Moro apenas
investigados sem foro especial e com ligações explícitas com o esquema de
corrupção instalado na Petrobras. Deixaram a 13ª Vara Federal de Curitiba, por
exemplo, processos relacionados à senadora petista Gleisi Hoffmann (PR) e ao
pagamento de propina conhecido como eletrolão. Com a posse de Lula na Casa
Civil suspensa por ordem da justiça, o petista não tem hoje direito de ser
julgado apenas no STF e sua situação deve se assemelhar no futuro a qualquer
outro investigado comum do petrolão, como o ex-ministro da Casa Civil José
Dirceu, o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto e o empreiteiro Marcelo
Odebrecht.
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